quinta-feira, 26 de maio de 2011

Das estantes lá de casa

Na caderneta de cromos falou-se de livros e de como "uma aventura..." ajudou uma geração inteira a encarar a leitura como um divertimento e não uma obrigação. Eu já brincava com livros antes de ler: ficava encantada a olhar para as ilustrações das enciclopédias infantis ou a construir casas, prédios ou carros com os livros que surripiava às estantes lá de casa (a imaginação sempre foi o meu forte). Os meus livros e os da minha mãe porque eu já tinha livros para mim antes de saber ler e a minha estante não é mais do que a continuação da estante que a minha mãe começou ainda em solteira. E há de tudo: romances, livros históricos, culinária, ficção, sobrenatural, actual, vencedor de Nobel ou clássicos portugueses inesquecíveis.

Mas como disse antes de saber ler já tinha os meus livros e talvez isso explique o porquê dos meus livros da Condessa de Ségur estarem cobertos por tuli-creme e rabiscos indecifráveis. Era criança e os livros eram para usar e foi tudo isto que levou a minha imaginação tão longe: o poder brincar e ler à vontade. Li "A Lua de Joana" antes da adolescência e aos 20 ainda comprei e li livros de "Uma Aventura..."; nos erros das Edições Brasil descobri a paixão por Hemingway por volta dos 15 quando já tinha deixado Anne Frank de lado; Gabriel Garcia Marquez veio-me parar às mãos pelas colecções da Visão; a curiosidade por Paulo Coelho chegou aos 13 pelas mãos de uma prima que o lia e me ofereceu o primeiro. Aos 8 folheei um livro sobre gravidez e percebi que de estado de graça tem pouco; li a "Aparição" e "Os Maias" porque sim mas nunca passei da segunda folha dos Lusíadas; já nos 20's tentei ler Lobo Antunes e descobri que quem andava pedrado devia ser ele.

Li Daniel Sampaio e tive pena dos meus pais por eu ter de passar pela adolescência (também não a tornou propriamente mais fácil); devorei a colecção dos "Arrepios"  mas jamais vou assumir que houve um ou dois que me deram arrepios à noite. Dei em romântica com Nicholas Sparks e admirei as mulheres que Sveva construía; deixei muita gente a olhar para mim no comboio com o meu desprezo pelo título dos livros ("A vida sexual da minha tia"); Agatha Christie ajudou a que a minha percepção fosse mais aguçada.

Aos 24 devorei os três primeiros livros do Crepúsculo de seguida e ainda hoje estou para perceber porque gosto daquilo. O Harry Potter está mais do que justificado. Deixei de parte o último livro da saga dos Dragões (booooring) e virei-me para o Jeff Abbot. Parei a "A sul da Fronteira, a Oeste de Sol" e continuei por Kaftka e pelas Danças. Li livros de leitura de mãos em plena Fnac e acabei de me lembrar que ainda não acabei o dito cujo. O gato que ensinou a gaivota a voar faz com que Luís Sepúlveda continue comigo tal como o quase romance apenas me fez gostar mais de Miguel Sousa Tavares

Não vi "Vai onde te leva o coração", "As palavras que nunca te direi", "O rapaz do pijama às riscas", "Como água para chocolate", "A liga de Cavalheiros Extraordinário" , "O crime do Padre Amaro" nem mesmo "A casa dos espíritos" porque a minha história será sempre melhor que a deles.

Porque a leitura é o prazer de descobrir quem somos por entre páginas e de construir um mundo só nosso que é aquilo que bem entendemos.



(Escrito contra o novo acordo ortográfico)

See you soon. :)

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